8.9.09

A abelha que colhe o mel vale o tempo que não voou.

Há alguns meses atrás meu pai me disse: Filha, você foi criada para se socorrer sozinha!
Essa frase ecoa em meus pensamentos e é ela que me traz aqui agora. Analisando as condições em que cresci e de como enfrentei e superei tudo, acredito que seja um fato,- apesar de ter me acarretado outros probleminhas-, mas pensarei somente pelo lado positivo.
Eu fui apenas o acidente, minha irmã era o milagrinho da mamãe o meu irmão o filho planejado, e, ouvir isso da boca dela me machucou.
Meu irmão tinha o gênio de Bart, então, conseguia se safar das artes que aprontava, minha irmã era medrosa e miudinha, mas ainda uma criança normal, e eu era apenas uma criança estabanada. Juntando todos os motivos pessoais da minha mãe e os motivos externos, todas as obras irritantes eram de minha autoria mesmo não sendo, apanhava dela por mim e pelos meus irmãos, meu pai era o único que punia todos de acordo com o culpado e que de alguma maneira me protegia da ira de Dona Ana.
Quando eu estava com 10 anos, meus pais se divorciaram, não adiantou chorar, fazer greve de fome ou pedir pelo amor de Deus, meu pai me deixou com a minha mãe. Todo o meu tormento começou aí, provei da rejeição e raiva dela com toda a força de sua frustração.
Quando estava com 14/15 anos eu só queria que tudo aquilo acabasse, fazia apelos desesperadores ao meu pai, mas ele se comportava como psicanalista que é e não como pai. Então, eu repetia como um mantra ao meu coração: Se te ferem perdoa. Viva a tua vida e seja teu próprio consolo.
Essa foi a pior fase da minha vida, onde eu tinha vergonha de mim e da minha vida, sentia inveja da família dos meus amigos: família unida e blá, blá, blá. Como não conversava, estravazava todo o meu lamento e ódio chorando por horas, escrevendo e socando paredes. Apesar de ter sido uma fase difícil, foi a mais importante também, foi quando eu aprendi a lidar melhor com as dores, onde eu comecei a procurar meios opcionais de fazer melhor o que eu não conseguia, onde eu lidava com tudo que não achava justo e mesmo assim perdoava, foi a fase onde não tinha nada além da fé para me agarrar. Todos os socos e ponta pés eu comecei levando em casa.
Aos 16 anos, meu pai me deu um emprego. Ganhando um salário mínimo, tinha que prestar contas a minha vida pessoal e a minha mãe. Contabilizava cada centavo para não me faltar o absorvente, porque nada mais me era dado. Minha mãe não trabalha e quando eu pedia alguma coisa para o meu pai,- que fosse um par de meias- ele me dizia: Quando você receber você compra ou um simples não.
Então, ao 18 anos, eu tinha o meu pai só como patrão e ajudava a sustentar a minha mãe.
Não tinha como encarar a vida de outra maneira se não de maneira séria. Me enchi de preconceitos, pouco se via sorriso em meu rosto e alegria em meus atos.
Levei muita porrada para me tornar responsável e me tornei uma velha as avessas. Foi quando comecei a levar porrada para abrir mão de preconceitos ridículos. Apanhei e errei bastante para crescer, apanhei e errei bastante para afrouxar as rédeas.
Por tudo que vivi, muitos desejariam viver e outros não suportariam 1/3. Já vi filhos virarem a cara para os pais por muito menos, já vi filhos sustentando os pais e irmãos, e tudo isso prova que o seu fardo é do peso exato da sua força, mas é opção sua carrega-lo. Como eu sempre digo: Para muitos é mais fácil se acomodar nos erros e no ruim a se melhorar para valorizar a própria evolução.
Eu já me considerei muito vítima das circustâncias, hoje não mais. Tudo que eu vivi me foi válido, tudo que eu vivo me é válido, absorvo sempre uma nova lição buscando sempre solidificar os degraus da minha evolução.
Hoje eu agradeço a Deus pela forma que cresci.
Agradeço por ter aprendido a tomar conta da minha vida sozinha antes de ser obrigada a colocar o nariz fora de casa.
Agradeço ter me tornado adulta antes de tomar o primeiro gole de cerveja. Antes de achar que minha vida podia se resumir a festinhas com amigos torrando o meu dinheiro com nada enquanto os meus pais me sustentavam.
Agradeço por ter aprendido a suportar dores e a perdoar, por ter aprendido a arcar com as consequências dos meus atos por não ter tido ninguém para jogar panos quentes.
Agradeço por ter a oportunidade de mudar, reparar meus erros e por aceitar as pessoas como elas são.
Agradeço por ter aprendido a necessidade da responsabilidade antes de descobrir o valor da diversão. Hoje eu sou além daquela menina que se mata de rir e dançar.

Não quero comentários. Obrigada.

Um comentário:

This is my Fuckin' Nature disse...

Acho que cada ser humano tem um "self-pain" ou uma ferida com casca, que ora pode cicatrizar ou vir a sangrar mais uma vez. Mas uns aceitam isso como uma condição única, severa e aprisionante sendo então vítimas de si mesmo. Outros, aprendem com ela e assim sobem os degrauzinhos.

Cada vez mais eu te admiro, pelo que você foi, pelo que você é!